Publicado por: Alessandra | 03/05/2009

EPIDEMIA DE PÂNICO II

Ontem escrevi o post EPIDEMIA DE PÂNICO sobre informação, epidemia e pânico.

Hoje, a Folha de São Paulo, caderno mais! publicou uma matéria do Peter Burke, intitulada “Pânico moral”, expressão usada pela sociologia, segundo Burke, para denominar pânicos coletivos. Uma vez que a matéria completa é acessível apenas para assinantes da Folha ou do UOL, transcrevo e comento partes do texto:

Pânico moral

O HISTORIADOR INGLÊS PETER BURKE RELEMBRA A CRIAÇÃO DE BOATOS E CULPABILIZAÇÕES DEVIDO A TRAGÉDIAS E EPIDEMIAS E RESSALTA O PAPEL CRUCIAL DO JORNALISMO

Uma das desvantagens da globalização, no sentido de eficiência ampliada das comunicações, é que não só as mensagens como as doenças podem se espalhar mais rápido do que no passado, e a atual epidemia de gripe suína exemplifica esse fato muito bem.

A epidemia é claramente uma ameaça real. Mesmo assim, existe o perigo de que as pessoas reajam de maneira excessiva a ela, ou reajam de maneira errada, o que poderia resultar em pânico coletivo. Pânicos coletivos -ou “pânicos morais”, como alguns sociólogos os denominam- são um fenômeno comum, talvez até comum demais.

No post anterior eu havia comentado que entendia que viver na iminência de um cataclismo não seria algo novo, mas consequência de nossos medos atávicos. Peter Burke, na matéria citada, relata várias “ondas de pânico” ou “surtos de paranóia coletiva” baseadas em fatos ou em boatos ao longo da história, como:

O grito. Edward Munch

O grito. Edward Munch

O medo das bruxas na Europa nos séculos 16 e 17;
O grande pânico na China, em 1768 causado por boatos de que pessoas sem moradia estariam roubando almas;
O grande medo (“La Grande Peur”) provocado por boatos que se espalharam na França em 1789, durante a Revolução Francesa;
Pragas na Europa em vários períodos: em 1348; na Itália em 1630, em Londres em 1665, e outras;
“Histórias sobre vilões que envenenam os reservatórios de água ou satanistas que torturam e matam crianças estão em circulação há muitos séculos (pelo menos desde o século 14)”.

Muito apropriadamente para o momento atual de pânico com a crise financeira global, o autor segue se referindo ao impacto que as ondas de pânico podem causar na esfera econômica e relata:

Um exemplo vívido – e que oferece paralelos desconfortáveis com relação à situação presente – é o do pânico financeiro que tomou os EUA em 1873.  A crise surgiu depois de um surto de gripe equina e do colapso de um grande banco (o Jay Cooke & Co.) e resultou em uma depressão econômica que durou alguns anos.

O autor segue analisando a tendência de se buscar bodes expiatórios nesses momentos e finaliza o texto abordando o pânico e o papel do jornalismo, ou a disseminação da informação por meio das mídias jornalísticas convencionais (televisão, rádio, jornais):

Será possível encontrar um caminho intermediário entre ignorar ameaças reais e sucumbir a pânicos coletivos? Os meios de comunicação têm papel importante a desempenhar, quanto a isso. Os rumores que transmitem e amplificam os pânicos são muitas vezes reações à falta de informações confiáveis. Se podemos afirmar que um pânico se assemelha a uma doença coletiva, o remédio – ou ainda melhor, o profilático – está no jornalismo responsável, quer na televisão, no rádio ou nos jornais.

De acordo? De minha parte, sim!

Entretanto, continuo pensando também no ponto de vista do receptor da informação, seja ele, instituições, governos ou pessoas comuns e na importância da informação que gera conhecimento para filtrar a própria informação. A necessidade de separar o joio do trigo, a informação irresponsável ou incompleta da informação confiável.

Mas, o que é informação confiável? A princípio, jornalistas checam suas fontes, trabalham para publicar informações verdadeiras. Seria a informação confiável aquela mediada ou a informação bruta ao alcance livre de todos? Penso que a combinação do jornalismo com a participação dos “leitores” que, por sua vez, têm acesso às fontes oficiais, faz a informação jornalística confiável, mais próxima do que se pode entender por verdade dos fatos, vista sob ângulos plurais.

Assim, chegamos ao papel da internet ou, mais especificamente, da web 2.0 nisso tudo! Se não somos mais meros receptores de informação, se torna mais fácil checar, questionar e diferenciar o que é fato jornalístico do que é manipulação ou sensacionalismo. A participação que a web permite hoje, diminui o poder das canetas de poucos ou da mídia de massa e dá maior poder à coletividade. Assim, a informação compartilhada, discutida, questionada e, questionável publicamente, é a informação confiável.

Fonte:
Burke, Peter. “Pânico moral” publicado na Folha de São Paulo de 03 de maio de 2009
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0305200909.htm

Postei e comentei a matéria do Peter Burke para a Folha. Agora vamos de Saramago!

Enviado pra mim, por um colega da UFSC: Em O caderno do Saramago sobre a GRIPE SUÍNA:

uma praça no México

uma praça no México

É inevitável a comparação com Ensaio sobre a Cegueira. A vida imita a arte mais uma vez? Espero que não. O livro do Saramago fala da desagregação social que acontece a partir de uma epidemia de cegueira. Por enquanto estamos vendo uma epidemia de pânico, no máximo.

Atualizando:

Hoje, 17 de agosto de 2009, vivemos a tal epidemia de pânico de que falei, acompanhada de uma epidemia de gripe suína real. Informações recentes e confiáveis.


Respostas

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